Garimpo legal toma conta do rio das Velhas e preocupa moradores de Rio Acima

A utilização de dragas na mineração de ouro coloca em risco a qualidade da água, uma vez que as máquinas reviram o leito do rio e levantam sedimentos, principalmente de metais pesados. Apesar disso, pelo menos desde outubro de 2021 diversos destes equipamentos estão tomando conta do rio das Velhas, na altura de Rio Acima, na região Central de Minas Gerais. No último sábado (24), pelo menos quatro dragas foram flagradas em imagens feitas por moradores. 

De acordo com um morador do município, que não quis ser identificado, as imagens enviadas a O TEMPO foram feitas no bairro Cortesia, que fica bem próximo da região central da cidade. “A informação que temos é de que existem várias outras dragas, mas não sabemos dizer quantas e nem onde estão exatamente. Essa situação já é recorrente há algum tempo e não estão preocupados em esconder, já que estão minerando aos olhos de todos e percorrendo um grande território entre Rio Acima e Itabirito”, contou. 

A situação já havia sido denunciada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Velhas) e, passado quase um ano das denúncias, a extração continua a todo vapor. Na primeira matéria divulgada pelo comitê já se falava sobre peixes que sumiram do rio e maior turbidez da água. 

“O que se fala aqui no município é que seriam empresas que possuem licença ambiental concedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), mas não temos como afirmar isso. Ainda que sejam de pequeno porte, percebemos claramente que a água fica barrenta pela manhã e clareia no fim da tarde e nos finais de semana. Nesta época do ano, com pouca chuva, o rio das Velhas fica bem claro, dando para enchergar o fundo, mas não com a mineração”, completa o morador. 

A reportagem entrou em contato com a Semad desde o dia 19 de setembro e questionou sobre a existência das dragas, se elas teriam autorização para atuar e, ainda, sobre o número de multas aplicadas por mineração ilegal. Passados quase dez dias desde a demanda enviada à assessoria de imprensa da pasta, não houve qualquer posicionamento. 

Já a Copasa informou, por meio de nota, que a fiscalização de atividades na bacia do rio das Velhas é de responsabilidade dos órgãos ambientais e da polícia ambiental. “A Companhia esclarece ainda que não registrou alteração em sua captação que está operando normalmente. O Rio das Velhas atende aproximadamente 2,4 milhões de pessoas da Região Metropolitana de Belo Horizonte”, completou. 

Metais pesados 

Em março de 2022, após as inundações que arrasaram diversas cidades da região Central do Estado em janeiro, um estudo da Rede de Monitoramento Geoparticipativo indicaram a presença de arsênio, ferro, manganês e chumbo acima dos limites permitidos pela legislação que regula a qualidade das águas. 

Na época, o secretário do CBH Velhas e coordenador do Projeto Manuelzão, da UFMG, Marcus Vinícius Polignano, afirmou que era possível que esses elementos fossem oriundos da extração minerária, mas que também podem estar presentes no solo da região, que vem sendo revirado pelas dragas. 

“Ao fazer o processo de extração, a mineração literalmente rompe o equilíbrio geoquímico que existe ali, retira todos os minerais e seleciona o que ela quer”, afirmou. 

Polignano disse ainda que, com a medição esporádica, não é possível afirmar que a proporção dos elementos químicos achados nas águas causariam danos. “Mas, se isso for persistente, pode ter efeitos. Metais pesados como chumbo e manganês têm efeitos cumulativos no organismo; absorvidos de forma gradual, interferem em mediadores químicos e podem trazer consequências para o sistema nervoso”, alerta.

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