A vida na internet e os conflitos entre juventude e saúde mental: como combater?

Psicóloga e docente do UniBH, Renata Ghisleni explica por que jovens, principalmente no Brasil, têm enfrentado tantos problemas envolvendo o uso da internet e a qualidade das relações individuais e coletivas

©Vinícius Santiago

Se você tem os seus 20 anos ou menos, provavelmente não se lembra como era a vida antes da Internet. Nas gerações atuais, jovens constantemente conectados, como quem tem o mundo nas mãos, já não conseguem viver sem o seu smartfone. Mas por que essa ferramenta pode ser tão nociva à juventude saudável quando utilizada sem limitações? É o que explica a psicóloga e docente do Centro Universitário UniBH, Renata Ghisleni:

“O excesso de tempo destinado às telas causa alterações comportamentais e cognitivas significativas. Impacta, de forma negativa na memória, na concentração, na regulação emocional e no modo como se aprende. Diversos estudos indicam implicações também nos processos de socialização, uma vez que se observa maior irritabilidade, agressividade, estados depressivos e, até mesmo, alterações alimentares e no ciclo do sono”, conta.

Desde o início dos anos 2000, as redes sociais tornaram-se um fenômeno em todo o planeta e, de acordo com o último balanço da Comscore, o Brasil é o terceiro maior consumidor de produtos do gênero. Não é um segredo que a maioria das plataformas e aplicativos de mídia social foram intencionalmente projetados para prender a atenção dos usuários o máximo de tempo possível. Elas podem parecer uma fonte de entretenimento inesgotável, na qual é possível criar qualquer tipo de narrativa sem um compromisso necessário com o que é real.

Nas mãos de jovens, por exemplo, muitas delas estão intrinsecamente relacionadas ao desejo de autoafirmação e, quase sempre, ao medo de rejeição. Por isso, o uso muito passivo dos aplicativos de mídias sociais — somente a navegação pelas postagens alheias — geralmente está relacionado a sentimentos negativos como inveja, rancor e autocomparação.

Há uma clara relação entre o uso excessivo de redes sociais e o surgimento de sintomas de depressão, ansiedade patológica, isolamento social e privação de sono. Na juventude, o excesso de tecnologia faz com que o indivíduo passe a maior parte do tempo interagindo virtualmente, o que afeta o desenvolvimento e faz perder outras experiências sociais importantes. Além disso, a confiança inflada de quem tudo pode dizer sem ser identificado ou penalizado, torna o cyberbullying uma crescente na realidade dos mais novos.

Recentemente, o país acompanhou o desconforto de Vanessa Lopes – uma jovem de 22 anos, extremamente bem-sucedida no mundo virtual que, confinada no BBB24, entrou em diversos momentos de perturbação mental. Muitas delas, como a mesma descreveu, advindas de gatilhos provocados pelo seu dia-a-dia trabalhando com o público da internet. Tamanho o stress, a participante desistiu do programa e segue agora em acompanhamento profissional.

Em tese, a tecnologia pode ser positiva, pois auxilia o planejamento e a organização das atividades, além de diminuir o tempo das buscas por informações e permitir aprendizados mais assertivos. Todavia, o uso excessivo de dispositivos tecnológicos pode trazer malefícios para o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo, impactando prioritariamente os jovens. Confira alguns dos problemas que o contato desmedido com a internet pode causar nesse grupo:

Falta de convívio social — é fato que, com o advento da internet, muitos jovens preferem a companhia do seu smartphone em detrimento do convívio social;

Ansiedade — a hiperconexão e o excesso de informações deixam os jovens cada vez mais ansiosos e com a necessidade pelo imediatismo;

FOMO — é a sigla para fear of missing out, que significa “medo de ficar fora”. É o medo de não saber o que as outras pessoas estão fazendo, de que estejam vivendo experiências sem ela fazer parte. Por isso, a necessidade de verificar redes sociais e comunicadores instantâneos, a todo momento, além de estar sempre compartilhando as novidades da sua vida;

Nomofobia — é o medo de ficar sem o celular. A palavra deriva da expressão inglesa “no mobile phone phobia”. A dependência dos smartphones pode causar alterações no cérebro, inclusive, sensação de abstinência;

Redução da autoestima — quanto mais conectado, maior a chance de desenvolver insegurança em relação à própria aparência física, tendo em vista os padrões de beleza impostos pela sociedade (disponíveis na internet), difíceis de alcançar.

Por fim, a psicóloga destaca o que pode ser feito para viver uma juventude sem sofrer os efeitos adversos do mundo virtual: “É importante que as famílias limitem o tempo de exposição diária às telas e o conteúdo de acesso dos filhos. Além disso, estimular rotinas que promovam a realização de atividades físicas, maior contato com a natureza, bem como a convivência presencial com os amigos e o diálogo – fundamental para o estabelecimento de relações saudáveis” , conclui.

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