Sonho de esportista – Por Leonardo de Magalhaens – #temporadadetextos

Fonte: Pixabay

        Sonhei que era um esportista. Daqueles que frequentam universidade ianque. Um jovem todo empolgado, com ânimo de calouro e arrogância de veterano. Tinha que aguentar as aulas chatas de Literatura Inglesa, tipo Lord Byron e Ezra Pound. Chatices. Minha praia era jogar hockey em campo. De vez em quando, na época boa, um hockey no gelo.

            Certo. Sou bom no hockey, e o treinador exigindo muito dos alunos. Tanto hockey em campo quanto hockey no gelo. O treino era numa quadra de basquete ou futsal. Não faltava agilidade no bastão, que aqui eles chamam de sticky, e não poupava os mais jovens, os calouros que queriam aparecer. Na quadra de futsal era o top para treinar de meias, e deslizava melhor pela quadra. Verdade que o treinador era rigoroso, o Mr. Allisson, e queria ensinar os atletas a vencerem mas sem humilhar os adversários.

            O Mr. Allisson queria ensinar a camaradagem. Eu devia ter camaradagem com os colegas. Ele chamava os derrotados para que eu me derramasse em camaradagem. Nunca humilhar os derrotados. Não tem essa de winner takes all. Eu chegava em cada perdedor do time derrotado e cumprimentava, dava um tapinha nas costas, dizia coisa positivas. Tudo pela camaradagem.

            Mas camaradagem é o que não havia no jogo que eu realmente gostava. Ninguém sabia, nem meu pai que banca minha boa vida aqui. Todo fim de semana, weekend como dizem aqui, eu estava num autódromo, tipo Interlagos, mas com formato oval, de Indy, apostando em corrida de carros. Não Fórmula One. Mas carros carros mesmo, que cabotam e decolam, que explodem. E lá uma multidão de apostadores, que não se importam com quem perde tudo.

            Até o dia em que perdi tudo. Até pensei que ganharia tudo. Aí foi mesmo pior. Sentia enfim a punhalada da derrota. E ninguém ali para me abraçar em camaradagem. Não tinha meu camarada pra cá ou meu camarada pra lá. Então fui pro jogo de hockey e derrotei aqueles perdedores e beijei a mão de cada um.


 

Leonardo de Magalhaens

Poeta, escritor, crítico literário, revisor , tradutor, Bacharel em Letras Fale/UFMG
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