Máscara não prejudica desempenho em atividades físicas vigorosas, diz estudo

O uso de máscaras não afeta o desempenho em atividades físicas vigorosas e intensas. Pelo menos, essa é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, publicado neste mês. Os resultados apontam que não há diferenças evidentes na oxigenação sanguínea e muscular, percepção de esforço ou frequência cardíaca durante as práticas feitas com e sem o equipamento de proteção individual.

A equipe de pesquisadores avaliou os efeitos do uso de máscara cirúrgica, de máscara de pano e da ausência de máscara em 14 pessoas — sete homens e sete mulheres — jovens e saudáveis, durante um teste cicloergométrico. Os exercícios tinham a intensidade aumentada progressivamente até os participantes chegarem à exaustão e duravam cerca de dez minutos.

Os resultados concluíram que o tempo até a exaustão, durante os testes de esforço, não foi diferente nas situações com e sem máscara. Também não foram encontradas diferenças no pico de potência atingido e na saturação arterial de oxigênio ao final do exercício.

As conclusões surpreenderam os próprios pesquisadores: a hipótese inicial era de que usar máscara durante o exercício reduziria a oxigenação sanguínea e muscular, reduzindo o desempenho. Estudos anteriores que avaliaram máscaras cirúrgicas no mesmo tipo de teste tiveram resultados distintos, e um constatou que o desempenho do exercício foi prejudicado.

O diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, Fernando Torres, ressalta que o estudo canadense avaliou participantes em exercícios de intensidade máxima e de curta duração. Segundo ele, o uso de máscara em exercícios mais longos pode ter efeitos diferentes.

“O que as pessoas geralmente fazem no dia a dia são treinos mais longos, que não têm a ver com atingir intensidade máxima, e, sim, uma boa velocidade. A gente não pode negar que a máscara é uma barreira entre a via respiratória e o ar e pode trazer, realmente, certa dificuldade para a respiração”, afirma, ressaltando a importância do uso do item de proteção durante os treinos. “Não é o momento para querer mudar totalmente de vida, treinar mais forte e ganhar performance, a gente precisa pensar primeiro na preservação da saúde”, diz.

De acordo com o professor Luciano Sales Prado, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, em casos de exercícios muito intensos e de maior duração, a máscara pode gerar certo incômodo, mas as pesquisas realizadas até agora não indicam prejuízos quanto à oxigenação sanguínea.

“Pode gerar uma sensação de que o fluxo de ar está limitado, e está mesmo, tem uma barreira física ali, só que isso não leva a qualquer tipo de intoxicação por dióxido de carbono nem diminui a oxigenação do sangue. A pessoa pode ter a percepção de que está fazendo um esforço maior do que na verdade está, mas a máscara deve continuar sendo usada, porque o risco de contágio, de fato, existe. Quando a pessoa respira muito intensamente, libera mais aerossóis”, explica. “A pandemia não acabou, não dá para relaxar. Vale mais adaptar o exercício do que tirar a máscara”, conclui.

Conforme o professor adjunto da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e coordenador do Laboratório de Inflamação e Imunologia do Exercício, Albená Nunes da Silva, a quantidade de trabalhos que testaram o efeito do uso da máscara durante a prática esportiva ainda é pequena, e os resultados publicados até o momento são inconclusivos e contraditórios.

“Independentemente do desempenho durante o exercício, há evidências de que o uso universal e adequado da máscara reduz a transmissão do vírus entre pessoas, protege contra a infecção e diminui a carga viral inoculada, o que pode representar a diferença entre sintomas leves e desfechos graves da Covid-19”, destaca o professor, que também é membro da Comissão de Ética Profissional do Conselho Regional de Educação Física de Minas Gerais.

Percepções variam

A percepção de quem pratica atividade física em relação aos impactos do uso de máscara no desempenho varia, de acordo com a intensidade e a duração dos treinos.

O personal trainer Alysson Pires Azevedo, 35, diz que, em atividades extenuantes, como corridas de alta intensidade, a sensação quando se usa máscara é de falta de oxigênio. “Eu não consigo correr de máscara. Vou para a Lagoa da Pampulha ou a Lagoa Seca em horários mais vazios e corro com a máscara abaixada. Quando passa alguém, eu subo”, afirma. “Tenho alunos que migraram de atividade porque não conseguiram se adaptar ao uso da máscara e passaram de corrida para algo mais leve”, conta.

Para a professora Heloisa Rosa, 36, que pratica pilates, a máscara não atrapalha. Ela também já fez caminhadas com o item de proteção e disse que não sentiu nenhum tipo de prejuízo. “Para falar a verdade, de máscara é bem melhor, porque, como o contato no pilates é bem próximo, não corro o risco de receber gotículas dos outros”, diz.

A estudante Luma Helena, 18, anda de skate e diz que, no geral, a máscara não interfere no desempenho, mas, quando a prática é mais longa, sente incômodo. “Quando bate o cansaço, eu abaixo um pouco para respirar e limpar o suor”, afirma.

Máscara ideal

Segundo o diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, Fernando Torres, o ideal é que as máscaras utilizadas na prática de exercícios físicos tenham equilíbrio entre proteção e respirabilidade. Para ele, as de TNT apresentam um bom custo-benefício. “A pessoa tem que testar algumas máscaras, ver qual se adapta melhor ao rosto e com qual ela se se sente melhor, e tentar manter o nível de condicionamento, não parar atividade física por esse motivo”, conclui.

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