Golpe do falso emprego mira adolescentes como vítimas em Belo Horizonte


Há pouco mais de um ano, Fernando* precisou deixar o trabalho de menor aprendiz em um supermercado de Belo Horizonte por conta do encerramento do contrato. Para ajudar nas contas de casa, o garoto de 16 anos passou a procurar uma outra oportunidade. Em agosto, ele foi chamado para uma entrevista em uma suposta agência de emprego na avenida Afonso Pena, perto da praça Sete, no hipercentro da capital. 

O pai, Alberto*, decidiu acompanhar o filho e não esperava que se tratava de um golpe. Após a entrevista, a agência exigiu o pagamento de R$ 600 para que o adolescente fosse contratado. “Na hora que terminou a entrevista com meu filho, falaram que a vaga já estava garantida, mas era preciso realizar esse curso que a empresa mandou fazer. Por pouco, não caímos nesse golpe”, relatou.

Conforme o delegado Wesley Geraldo Campos, titular da 2ª Delegacia da Polícia Civil/Centro, esse tipo de crime contra adolescentes está cada vez mais comum na capital. “Essas pessoas abrem empresas e anunciam vagas de emprego para adolescente e menor aprendiz. Colocam que são boas colocações, com salários altos, para poder atrair (interessados). Os  jovens comparecem com os pais e, quando o currículo é analisado,  (os golpistas) desqualificam (o candidato) e falam que, para ocupar melhores empregos, é preciso fazer um curso, oferecido pela própria agência”, explicou.

Sobre o curso, o delegado disse que são usados vídeos de sites na internet. “Os pais contaram que o valor do curso informado pela agência é de R$ 3.000, mas que a empresa iria pagar a maior parte e o adolescente, apenas R$ 400. Geralmente, eles se aproveitam da vulnerabilidade. São pessoas com pouca instrução que vão procurar uma vaga”, completou.

Já os salários oferecidos, segundo Campos, são acima da média e chegam a R$ 1.500 para meio período de trabalho. “O valor é superior ao salário mínimo, que tem jornada completa. Acreditando que vão conseguir essas vagas, muitas vezes, os adolescentes e responsáveis começam a pedir para parentes, como avós e tios, o dinheiro para fazer o curso. E a agência tem alguém com carro que vai na hora, à casa da pessoa, para buscar os R$ 400”, disse.

Após o pagamento, as vítimas assinam um documento que simula o contrato com a agência, que convocaria o adolescente para o novo posto de trabalho em até três meses. “Só que esse dia nunca chega. Esse tipo de delito vem aumentando muito, principalmente na região dos bairros Prado e Gutierrez. Sempre abrem uma empresa, fecham um tempo depois e abrem outra para que as pessoas não localizem (os golpistas)”, declarou.

Usam nomes de ‘grandes empresas’

Alberto, que por pouco não caiu no golpe, revelou que a agência usou nomes de “grandes empresas” para atrair o filho. “Fui com ele à entrevista,. Não informam quem indicou, só falam que é um encaminhamento. Pedem até para escolher o horário de trabalho, dizem que vai atuar na parte administrativa e que o emprego é perto de casa. Eles convencem também o pai”, acrescentou. O homem só desconfiou por conta do alto valor cobrado pela realização do curso. Mesmo assim, disse que teve trabalho para convencer o adolescente de que era um golpe.

“O problema é que essa entrevista ilude o garoto. Como pai, fico revoltado, porque ele quer trabalhar. Convencer ele foi difícil, porque falaram que já começaria na semana seguinte. Perguntaram como é o temperamento dele, horário de estudo, uma conversa totalmente normal”, afirmou. Após esse episódio, Alberto conseguiu descobrir o CNPJ da empresa e viu que uma mesma pessoa possuía várias outras agências com nomes diferentes.

Estelionato contra jovens de 12 a 17 anos cresce em Minas

Dados do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais mostram um aumento de golpes de estelionato contra jovens com idades entre 12 e 17 anos. Entre janeiro e julho deste ano, foram 344 vítimas no Estado, contra 261 no mesmo período de 2020, o que representa alta de 30%. No consolidado do ano passado, foram 475 casos, contra 331 em 2019 – crescimento de 43%. 

O delegado Wesley Geraldo Campos disse que os principais estelionatos contra essa faixa etária investigados são justamente os golpes do falso emprego. “É o crime de estelionato que envolve adolescentes com maior frequência relatado na delegacia”, pontuou. Campos ressaltou a importância das vítimas procurarem a Polícia Civil para que as investigações sejam realizadas e os criminosos detidos.

“Pedimos que toda pessoa que tenha sido vítima desse golpe compareça a uma delegacia e faça a representação. Tivemos uma alteração recente no Código Penal, e o crime de estelionato depende da representação da vítima, é até uma condição para iniciar a investigação na delegacia. Pode fazer o boletim de ocorrência junto à Polícia Militar, mas tem que comparecer”, declarou.

Suspeita de ser proprietária das agências foi indiciada

Uma mulher que atuava em uma das agências chegou a ser indiciada pela Polícia Civil recentemente. De acordo com o delegado, ela disse que era contratada para atuar como gerente e não tinha participação na sociedade. “Acreditamos que ela seja a verdadeira autora desse golpe. Chamamos a pessoa registrada como proprietária, mas é um laranja dessa suspeita. Não sabia de nada da empresa”, disse. 

Nesta semana, a corporação chegou a fechar uma falsa agência de emprego que oferecia vagas para jovens adultos, com idades entre 18 e 25 anos. Na ocasião, 21 pessoas, entre funcionários e líderes da organização criminosa, foram presos. O delegado Wesley Campos não descarta que o grupo seja o mesmo responsável pelas agências que praticaram golpes contra os adolescentes. 

“Toda vez que oferecerem a vaga de emprego, se precisar pagar alguma coisa para conseguir a vaga, não efetue nenhum tipo de pagamento. Com certeza, essa vaga nunca vai existir. E, quando procurar a agência, já estará fechada”, finalizou.

*Nome fictício

 

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