Flanelinhas são alvo de operação da Guarda em bairro nobre de Belo Horizonte


Com lágrimas nos olhos e a chave da BMW de uma cliente nas mãos, o lavador de carros Maurício Batista, de 52 anos, assistia à movimentação de agentes da Guarda Municipal de Belo Horizonte que, nessa quarta-feira (14), colocaram em prática uma operação na praça JK, no bairro Mangabeiras, à região Centro-Sul da capital, para coibir a atuação de guardadores de carro – conhecidos como “flanelinhas” – e checar denúncias de comércio ilícito de drogas e furto de água no espaço público. Maurício e o filho, o também lavador de carros Tiago Silva, de 35 anos, foram dois entre os oito lavadores abordados por agentes do município na ação desta manhã, e, contra o grupo, segundo a Guarda, havia acusações de extorsão. O choro do homem de 52 anos, por outro lado, deveu-se à suspeita de furto de água, que levou a corporação a acionar a Copasa para a cobertura de um buraco na calçada da praça JK onde foi feita ligação de água (“gato”) para uso na limpeza dos carros. 

Mobilizando oito viaturas e cerca de 30 agentes, a operação que estendeu-se até a entrada da Vila Acaba Mundo provocou revolta entre moradores do bairro Mangabeiras e frequentadores da praça JK, críticos à ação da Guarda. A motorista do carro que era limpo por Tiago Silva no instante em que a operação começou negou a existência de denúncias de extorsão contra os lavadores, e defendeu o grupo. “Sempre deixo o carro aqui para lavar. Eles são sempre muito educados, e o serviço sempre muito bem feito. Nunca vi extorsão aqui, e também nunca vi comércio de drogas”, declarou. 

O relato foi reforçado por um morador do bairro Mangabeiras que optou por não se identificar. “Isso aqui é um negócio absurdo. Só o que eu consigo contar aqui, são 15 agentes, fora os fiscais. Para quê isso? Para quê fazer uma graça dessas em público? Todos estão indignados. Tudo bem, os rapazes não podem usar a água, mas, por quê a prefeitura e a Copasa não oferecem alguma solução? Se não puderem trabalhar aqui, como eles vão fazer? Vão assaltar? Vão traficar? Eles têm que comer”, disparou. 

O cenário descrito pelo morador aplica-se à história de Tiago Silva. Abordado pela Guarda Municipal e ameaçado de ser conduzido à delegacia de Polícia Civil por desobediência, ele garantiu que não irá parar de lavar carros na praça JK e retornará logo na manhã de quinta-feira (15). “Daqui eu não vou sair. Amanhã estarei aqui de novo. Tenho quatro filhos para criar, dois moram comigo. Cumpri sete anos de cadeia e não volto pro crime. Se eu precisar encher um copo com água por vez para lavar os carros aqui, eu encho”, narrou. À reportagem, ele disse que deu entrada no cadastro da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) como lavador de carros, mas não conseguiu se regularizar em decorrência da pandemia de Covid-19. 

Além dele, o pai, Maurício Batista, também depende da lavagem de carros na praça JK para se sustentar. “Na minha casa a situação não está boa. Minha esposa está com um aneurisma, e eu fui demitido com essa pandemia. Eu não tive outra opção. Vim aqui lavar carro para ajudar dentro de casa. A única coisa que a gente quer é trabalhar”, declarou. Maurício e Tiago lavam carros de segunda a segunda na praça JK,  alternando horários nos períodos da manhã e da tarde.

Operação da Guarda Municipal é recorrente 

À manhã de quarta-feira (14), o subinspetor José Roberto Meira da Guarda Municipal de Belo Horizonte esclareceu que a operação na praça JK integra um conjunto de ações da corporação para garantir a segurança de moradores da capital. “Nós temos detectado denúncias sobre tráfico de drogas, uso indevido de água e extorsão, que são atividades que vão de encontro à legislação brasileira e da cidade de Belo Horizonte”, disse. Segundo ele, na atividade desta manhã foi confirmado o uso indevido de água, mas não foram flagradas situações de extorsão ou comércio ilícito de substâncias. “Nós abordamos cidadãos que já tinham passagens, mas ninguém foi conduzido. Aqui na praça já existe um histórico de tráfico, e por isto foi feita a intervenção para apurar as denúncias recebidas”. 

Indagada, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) confirmou ter efetuado corte de ligação clandestina na praça JK nesta quarta-feira (14). Procurada por e-mail, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) declarou que realiza ações para “garantir a manutenção da ordem pública”, estando o combate à atuação de flanelinhas entre elas. “Esse trabalho tem o suporte do aplicativo BH App, em que a população protocola denúncias da ação de flanelinhas. Com a compilação das denúncias, a Guarda atua preventivamente”, declarou o município por meio de nota. 

Em relação à situação na praça JK, a PBH disse que a operação “foi planejada a partir de inúmeras denúncias de extorsão praticada por flanelinhas, informações de furto de água da rede pública na praça, e, ainda, uso e venda de drogas na região”. Segundo a Guarda, cinco motoristas foram multados durante a ação por estacionarem em local irregular. “Os fiscais da prefeitura atuaram na desobstrução do logradouro público, que estava ocupado por pertences de flanelinhas, e que limitavam a circulação de pessoas”, declarou a assessoria. 

Atividade regular. Sobre as atividades desempenhadas pelos lavadores de carro, a PBH declarou que “o uso da vaga pelo motorista não pode ser condicionado à execução do serviço”. O licenciamento desses trabalhadores autônomos depende de habilitação em processo licitatório. “No momento, não há licitação vigente, não sendo admitida solicitação de nova licença”. 

Fonte do link

Compartilhe:

Comentários