Atendimento de casos suspeitos de Covid-19 pelo Samu sobe 137% em 2 meses em BH


O número de atendimentos de casos suspeitos de Covid-19 pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) mais do que dobrou em Belo Horizonte nos últimos dois meses. Na semana epidemiológica 45, entre os dias 1 e 7 de novembro de 2020, foram 279, número que passou para 664 nove semanas depois, entre os dias 3 e 9 de janeiro deste ano, um aumento de 137%.

A elevação da demanda tem obrigado novamente os socorristas a transportar dois pacientes com suspeita ou confirmação da doença simultaneamente, em uma mesma ambulância, e pode impactar o tempo de resposta para outras demandas.

“Quando o cuidado (com as medidas preventivas) se afrouxa, o impacto é generalizado. Eu costumo dizer que, no auge de uma pandemia, um cidadão que não tem Covid-19 e é atropelado pode ter o atendimento dele demorado, atrasado, porque a ambulância mais próxima dele está ocupada atendendo uma ocorrência da doença. Apesar de todos os esforços que a gente faz, com reforço de frota e recursos humanos, não é possível atender a todos o tempo inteiro. Se os níveis da pandemia sobem, como estão subindo desde dezembro, acaba que, necessariamente, há um impacto, sim”, afirma o gerente do Samu de Belo Horizonte, Roger Lage.

Ao longo de 2020, a pandemia de Covid-19 mudou a rotina do Samu da capital e contribuiu para o aumento de 19,6% no número de atendimentos presenciais em comparação com 2019.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), no ano passado, o serviço recebeu 553.772 chamados e enviou ambulâncias para 130.055 ocorrências, enquanto, no ano anterior, foram enviadas ambulâncias para 108.692 atendimentos. As principais causas de atendimentos foram, justamente, as infecções de vias aéreas superiores, seguidas de surtos psicóticos, crises convulsivas e acidentes automobilísticos.

“Normalmente, essas ocorrências (de infecções de vias aéreas) não são as mais atendidas. Geralmente, as mais comuns são os acidentes automobilísticos, surtos psicóticos e atendimentos relacionados a alteração do nível de consciência, como crises convulsivas e AVC”, diz Lage.

Para dar conta do crescimento da demanda, a frota do Samu foi ampliada para 50 ambulâncias, de suporte avançado e básico — antes eram 27. As equipes também foram incrementadas. O quadro de profissionais é composto, atualmente, por 641 trabalhadores, sendo 183 agentes de serviços de saúde, 93 enfermeiros, 121 médicos, 240 técnicos de serviço de saúde e quatro técnicos superiores de saúde.

Segundo Lage, os profissionais que atendem casos suspeitos de Covid-19 seguem protocolos específicos de paramentação e uso de equipamentos de proteção individual (EPIs).

“Nós temos embarcado em todas as ambulâncias um kit de EPIs para cada trabalhador da saúde e temos EPIs adicionais em caso de necessidade maior. Além disso, após cada atendimento de paciente com suspeita ou confirmação de Covid-19, é obrigatória uma desinfecção da ambulância, uma desinfecção específica, que também segue protocolos mundiais e do município”, afirma.

Passados cerca de dez meses de pandemia, o gerente do Samu diz que manter a motivação da frente de trabalho é “extremamente difícil”. “As pessoas estão adoecendo, então temos sempre que fazer cobertura de afastamento, cuidar da saúde de quem está trabalhando pela saúde. O isolamento social e as medidas protetivas são importantes não só para evitar o contágio, mas para evitar a disseminação da doença e a demanda excessiva sobre os diversos setores da saúde”, pontua.

Desde o início da pandemia, 123 profissionais de saúde do Samu e das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte testaram positivo para Covid-19.

Uma enfermeira que atua como socorrista do Samu há mais de dez anos conta que ela e os colegas estão trabalhando “no limite da exaustão física e mental”. Ela trabalha doze horas por plantão noturno e, nas últimas semanas, só tem parado para a hora do jantar. “É realmente exaustivo. Tem aumentado muito o número de transportes, quando a gente pega pacientes que estão nas UPAs e transfere para hospitais. Para cada transporte, são quase três horas. A gente paramenta, pega o paciente, desloca e depois faz a higienização da ambulância”, explica.

Segundo a profissional, a sensação é de enxugar gelo, principalmente diante de cenas de aglomeração pelas ruas e de desrespeito às medidas de prevenção. “As pessoas não reconhecem o nosso trabalho, porque, se reconhecessem, estariam colaborando”, afirma, destacando ainda que convive diariamente com o medo. “Sinto medo pelos meus familiares e também pelos outros pacientes que atendemos, por mais que a gente tome todos os cuidados”.

Outra profissional conta que, desde que as ambulâncias voltaram a transportar dois pacientes simultaneamente, a apreensão aumentou. “Levando em consideração o espaço do carro, não tem como manter o distanciamento. Estamos cansados e já chegando ao limite da exaustão. Muitas vezes, se o colega falta ou tira férias, trabalhamos sozinhos, apenas com o condutor. Não tem como ter segurança nesse cenário, temos fé em Deus”, diz.

Quando chamar uma ambulância

De acordo com o diretor do Samu, Roger Lage, a Covid-19 tem sinais que devem servir de alerta. “Isso vale para todo mundo, chamando ou não a ambulância. Esses sinais são febre contínua, sintomas de falta de ar importantes que limitam a fala e as atividades básicas, como pentear o cabelo e andar dentro de casa, e roxidão dos lábios e das mãos”, destaca. Ele lembra que 192 não serve apenas para envio de ambulâncias, mas também para orientação. “Podemos orientar se o paciente precisa ir ao hospital, se ele pode ir de carro próprio ou de ambulância, ou se pode ficar em casa”.

Como funciona o atendimento

O atendimento no Samu começa a partir da demanda feita pelos solicitantes por meio do telefone 192. Depois, inicia-se uma produção em série.

“O solicitante liga 192 e passa por uma triagem objetiva para passar endereço e uma referência para a ambulância chegar rápido. Essa ligação, então, é transferida para um médico regulador, que faz uma consulta por telefone muito objetiva, com perguntas objetivas que seguem um protocolo para a gente apurar, primeiro, se o paciente precisa de atendimento por ambulância. Se ele não precisar, nós vamos referenciá-lo a uma unidade de saúde mais próxima ou orientá-lo a ficar em casa e tomar os cuidados devidos”, explica o gerente do Samu de Belo Horizonte, Roger Lage.

Quando há necessidade de envio da ambulância, o médico define se a pessoa precisa de uma unidade de suporte básico ou avançado.

“Posteriormente, essa ocorrência vai para uma regulação secundária, que vai acolher os dados do atendimento. Na hora que a ambulância chega ao local, passa os dados do atendimento. Nessa regulação secundária vai ser decidido qual encaminhamento será dado para aquela ocorrência: se vai para o hospital ou uma UPA, se vai precisar de CTI ou não”, diz Lage. Pelo sistema, é possível saber qual unidade está mais cheia, por exemplo.

O Samu de Belo Horizonte tem uma central de regulação própria, no bairro Coração Eucarístico, na região Oeste. Já as ambulâncias são distribuídas em todas as regionais da cidade.

Transporte de dois pacientes simultâneos

A Secretaria Municipal de Saúde confirmou que “eventualmente podem ser transportados até dois pacientes com prontuários médicos semelhantes seguindo as orientações e normas vigentes, em veículos de maior porte”. Isso ocorre quando a origem e o destino dos pacientes são os mesmos, quando eles apresentam os mesmos sintomas em relação à possibilidade ou não de contaminação pela Covid e quando não há presença de acompanhantes.

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