A uma semana do exame, alunos se preparam para um Enem atípico


A menos de uma semana do primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o nervosismo e a ansiedade costumam ser companheiros dos participantes. Sentimentos que se intensificaram na edição deste ano da prova, já que ela precisou ser adiada por causa da pandemia do novo coronavírus, que também aumentou o abismo entre os ensinos público e privado no país. 

Os testes presenciais serão aplicados no próximo domingo e sete dias depois, em 24 de janeiro. Há ainda a possibilidade de reaplicação, por questões de saúde, em 23 e 24 de fevereiro. No caso da versão digital, as datas são 31 de janeiro e 7 de fevereiro. O resultado será divulgado em 29 de março.

 

 

O estudante Lucas Santiago, 20, se formou em uma colégio particular de Belo Horizonte em 2018 e agora faz o curso Pré-Enem do Chromos. Com o objetivo de passar em medicina, ele afirma que a transição para a as aulas virtuais não foi fácil, mas acabou sendo bem-sucedida. 

“Eu estava vindo no gás, com o pensamento de que esse seria o meu ano, e teve toda essa reviravolta de um ano atípico. Mas eu foquei nos meus estudos e consegui me adaptar. Elaborei todas as minhas metas e essa frustração deixou de existir a medida que os resultados começaram a surgir. Comecei a ter uma adaptação boa com o EAD (ensino a distância), e as coisas foram fluindo com naturalidade”, explicou o estudante.

 
Santiago conta que tentou fugir da estratégia tradicional de estudos. Ao invés de fazer anotações no caderno, passou a pregar post-its na porta do quarto para lembrar do conteúdo estudado. Nos poucos dias que faltam para a prova, ele afirma que a estratégia é cuidar da saúde. “Vou descansar. Porque o descanso é uma parte da preparação. Agora não é momento de desacelerar, mas de priorizar a saúde mental”, frisa.

Público

A estudante Maria Eduarda Freire, 18, está concluindo o terceiro ano do ensino médio na Escola Estadual Madre Carmelita, na Pampulha, e quer cursar psicologia. Com a suspensão das aulas presenciais, ela passou a estudar pelas apostilas oferecidas pelo Estado e aulas transmitidas pela televisão, na Rede Minas. 

“Não foi suficiente. Este ano vai ser só para eu não perder muito o ritmo mesmo. Mês passado eu fiz um simulado pré-Enem e tinha perdido o ritmo. A gente não tem mais os simulados da escola. Às vezes, eles pediam para gente fazer uma redação, mas não havia um retorno. É difícil estudar em casa, não é igual na escola”, explica a estudante. 

Mateus Malta, 20, mora em João Monlevade, na região Central do Estado, e sempre estudou em escola pública. Ele se formou no ensino médio em 2018 e, pela terceira vez, vai fazer o Enem para engenharia da computação. Para ele, o nível de nervosismo é grande, já que se trata de uma etapa decisiva dos estudos. 

“Eu estudava quatro horas por dia no começo e focava mais matemática e interpretação de português. Agora, na reta final, eu estou mais focado na redação, para tentar aperfeiçoar o tempo que demoro. Como vai ser um ano decisivo para mim, eu acho que a concentração é a base de tudor”, afirma.

Pessoal

Estevão Urbano, que é infectologista e membro do comitê contra a Covid da PBH, lembra que os alunos também precisam manter os cuidados de higiene.

“Usar máscara sempre e limpar as mão constantemente. O ideal é ao banheiro em casa, para evitar nos locais de prova. Se a máscara ficar úmida, é importante trocá-la, pois ela estando úmida aumenta o risco de contágio. A máscara deve ser trocada a cada três horas e é preciso deixar um saquinho com uma outra máscara em cima da mesa”, explica.

Aulas ao vivo e gravadas para garantir aprendizado

Para driblar as dificuldades na adaptação dos professores ao novo método de ensino, novidade para grande parte deles, o Pré-Enem do Colégio Chromos, em Belo Horizonte, montou uma estrutura com estúdio de gravação e ofereceu uma mescla de aulas gravadas e ao vivo para os estudantes.

“A dificuldade foi readaptar em um tempo muito curto. Foi uma grande dificuldade, mas em dois dias a gente já estava com tudo montado e conseguimos subir nossas aulas para o portal digital”, relembra a professora e coordenadora do Pré-Enem do Colégio Chromos, Denise Arão.

A professora conta ainda que no início os alunos também precisaram de adaptação. “Em um primeiro momento, nós tivemos muitos alunos com dificuldade e é natural, porque o ensino a distância não é fácil. Muitos desistiram, mas os que permaneceram conseguiram se adaptar muito bem. Alguns já dizem que preferem o estudo a distância”, reforça Denise Arão.

Rotina

O estudante de 20 anos Lucas Santiago é um dos bem adaptados ao ensino remoto. “Fiquei grande parte do ano começando a estudar 10h e acabando 22h30. Era uma rotina de estudo bem pesada, mas o curso que eu quero exige estudo firme. Eu mantenho essa rotina junto com os professores da escola, que fizeram um planejamento de estudos semanal e eu me desdobrava para segui-lo”, declara.

Santiago afirma que se adaptou bem ao ensino a distância, apesar de ainda preferir o presencial. “Me esforcei ao máximo, e os resultados para mim estão aparecendo”, celebra o aluno do Chromos.

De 200 para 1

Os professores do cursinho que estavam acostumados a falar para uma sala com 200 estudantes também precisaram se acostumar com a novidade de falar para apenas uma câmera. 

“A gente não tem ali o retorno do aluno e isso também gera uma certa dificuldade, até mesmo para poder lecionar. Mas nós tentamos conduzir isso da melhor maneira”, explica a professora e coordenadora do curso Pré-Enem do Chromos, Denise Arão.

Máscaras serão verificadas antes da prova e salas terão menos estudantes

O Inep, instituto responsável pelo Enem, informou, em nota, que adotou medidas de segurança contra o coronavírus para a realização do Enem. “Além da redução do número de pessoas por ambiente de aplicação, salas especiais, com ocupação de até 12 pessoas, serão destinadas aos participantes que são mais vulneráveis à Covid-19”. Fazem parte desse grupo gestantes, lactantes, idosos e pessoas com condições médicas preexistentes, como cardiopatias, doenças pulmonares crônicas, diabetes, obesidade mórbida, hipertensão, doenças imunossupressoras e oncológicas.

O instituto também informou que nos locais de prova serão disponibilizados recipientes com álcool em gel. Já em relação aos banheiros, os participantes serão orientados a lavar as mãos antes e após o uso. O governo garantiu que todos os espaços passarão por higienização antes de cada prova, e a identificação dos participantes será feita fora da sala da prova. 

Fiscais

Os estudantes vão poder levar mais de uma máscara para a prova, porém elas “serão verificadas pelos fiscais para evitar possíveis infrações, respeitando a distância recomendada”.

O instituto também afirma que os aplicadores de prova, ficais e demais colaboradores estão sendo capacitados para se adequarem às medidas de segurança sanitária.

Defensoria tenta suspender teste

A Defensoria Pública da União (DPU) entrou na Justiça pedindo o adiamento do Enem. Na ação, impetrada na última sexta-feira, a DPU alega que a prova foi agendada “exatamente no pico da segunda onda de infecções, sem que haja clareza sobre as providências adotadas para evitar-se a contaminação dos envolvidos no exame”. Até ontem não havia decisão da Justiça.

O documento também é assinado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e as entidades Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Educafro

 

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